terça-feira, 26 de agosto de 2008

Carta de Luanda 2



25 de agosto de 2008

Olá pessoal!

As saudades são enormes.

Estou sem meu laptop, pois peguei um vírus “Cavalo de Tróia” através da conexão com um computador do auditório da clínica na primeira aula que dei. Que azar!!! Tentei de tudo para concertar, mas sem sucesso. Pelo menos estou aprendendo um bocado de computador, atualizei meu windows, desinstalei meu teclado e instalei de novo, fiz o escambau, nunca achei que saberia mexer tanto com PC, pena que não deu certo. Agora vou ter de mandar para o concerto (espero que tenha), mas só depois que sair o salário. Por isso estou sem conexão com internet no hotel, e no trabalho só consigo acessar o email.

Aprendi mais uma coisa do idioma kimbundo, a nossa palavra bocado vem de bukatu…legal né?

A aula que fiz foi legal, falei sobre DST para um público de cerca de 200 pessoas, todos funcionários da clínica, de técnico a nível superior. Foi um bom começo, fiquei satisfeito com o resultado. Os angolanos além de simpáticos são muito participativos e interessados.

A cidade

Um outro dia de engarrafamento, em que absolutamente nada andava, aqui parece São Paulo, o motorista do nosso ônibus resolveu entrar pelas comunidades, o que chamavamos de favela no Brasil aqui é conhecido como Mussekes. Muita similaridade com tudo o que conhecemos, só que são no plano, apesar de irregulares, mas não há morros aqui. Casas com paredes de blocos, papelão ou pedaços de conteiner, tetos de zinco alocados com tijolos ou pedras em cima, contra o vento. Nada de banheiro ou saneamento. Luz também não, não há uma empresa de iluminação pública aqui como a Light ou a Ampla, cada um tem seu gerador a diesel, e portanto, esses casebres são todos com velas ou lampiões. Ruas de terra e muito lixo, com casebres construídos em cima do lixo inclusive. Crianças descalças, só de fraldas ou shorts, andando descalças e com o nariz escorrendo, atravessando valas a céu aberto. Todos pretinhos e de cabeça raspada…como lembrei de Areinha (meu erê pra quem não conhece) , inclusive vi um menino brincando com uma roda e um arame igual ele pediu e ganhou da Marcia. Nunca poderia imaginar que aqui eles brincam com isso.
Num determinado ponto havia uma barricada com restos de ferro velho no qual vários homens ficavam cobrando ´gasosa´ (pedágio), pois sabiam que pelo movimento anormal de carros no local e com o engarrafamento na cidade, eles poderiam tirar uma boa grana. A diferença em relação ao Rio é que eles não estavam armados, apesar de agressivos (e do ajuntamento), e por não haver um tráfico de drogas organizado no local (pelo menos não visível)
Por falar em Areinha e terra, realmente me lembro o tempo todo que aqui é terra de meu Pai Omulu, é uma terra avermelhada, fina como areia, que com o tempo seco, sobe e se deposita em tudo, folhas de árvores, postes, telhados, o que dá toda uma coloração marrom-avermelhada a cidade. Dizem que quando chegar a época das chuvas as coisas melhoram.



Praia ou Ilha de Mussulo
O lugar é uma ilha bem próximo ao continente (na cidade de Luanda mesmo), uns 15 min com uma lancha pequena, no qual os motoristas tentam te achacar absurdamente, só dá pra ir num lugar desse acompanhado de algum angolano. Praia limpa, bom bar com bangalôs e mesas (muito caro), e portanto só fiquei a olhar mesmo….rsss. É uma paisagem legal, mas nada que se compare aos passeios de Angra e Paraty. Gente….nossa terra é linda……olhem com muita atenção e carinho para ela.

Areinha

Eita garoto danado!!!. Não havia entendido seus recados, mas aqui as coisas ficaram claras, já mencionei as quizilas acima,e os garotos aqui que lembram muito ele, inclusive brincando. E agora para completar, o fato dele ter dito que iria ver muito egum, pois é, como já falei antes, os velórios são em casa, e a gente vê os caixões saindo de carro, acidente de carro com moto aos montes, e as pessoas não socorrem, vão embora após o acidente (pq se não são linchadas pelos pedestres). Logo, os acidentados tem de esperar alguma ambulância para pega-los e isso não é rápido. Já passei por três cadáveres, recém acidentados. È muito louco isso aqui!

Policiamento

Não há quase policiamento público, tem alguns poucos guardas de trânsito, e vários militares com metralhadoras policiando prédios públicos e governamentais. Alías, exército aqui é o que não falta, é comboio passando a toda hora, e bem armados. È comum vermos serviço particular de segurança em cada casa (classe média e alta), dizem que é resquício da guerra. O clima lembra um pouco o do Brasil na década de 70, ninguém fala publicamente de política por medo, e o partido do governo (MPLA) domina a TV e rádio, além de toda a vida cultural de shows e etc. Tem bandeira do partido pra tudo que é lado. Alías, vai ter eleição para legislativo aqui no dia 5, será feriado, esqpero que não tenhamos que vir ao hospital, por questão de segurança, será a primeira eleição depois da guerra.

Comida

Graças a Deus a comida é muito parecida com a nossa, muito alho e sal. Dendê tb usam bastante aqui…oba!! Eu adoro…eles chamam de óleo de palma, e usam até no tempero do feijão (refogado)…fica muito bom. O prato mais típico é o Funje, eu não gostei. É uma massa feita de água e farinha de milho ou de mandioca branca, lembra um pirão, só que muito duro e sem nenhum tempero ou sal, em cima é que se joga um ensopado de carnes ou peixes com os molhos temperados. Acho que o nosso cozido vem daqui.
Tem Bob´s, um no shopping e outro drive tru próximo de onde iremos morar futuramente. O sabor é o mesmo, só o serviço que pra variar é leeeeennnttttoooooo, faz os nossos no Brasil parecerem a jato….rssss. O preço tb é maior, um trio big bob sai em torno de $ 13 (americanos). Comida aqui é muito cara. A sorte é que bebida é bem barata (no supermercado)…..rssssss

Hospital

A clínica ainda não inaugurou, atrasou a chegada de alguns materiais que vêm de Portugal. A previsão é que seja depois da eleição (05/09). Estamos trabalhando na elaboração de protocolos, fase muito boa, pois fazemos bastante pesquisa. Ainda fazemos algumas simulações de atendimento, treinamento do uso de material e etc. Enquanto isso, outros médicos vão chegando. A maioria é brasileiro e angolano, mas tem tb cubano, portuguese e russo.

Feira Roque Santeiro

Maior shopping que já vi na vida, experiência antropológica e tanto….A Regina Casé já gravou um programa lá. A céu aberto, com centenas de barracas tipo feira livre, vendendo tudo que se possa imaginar. Se perde a visão da extensão da feira. Tem fama de ser mais barato, mas para nós tudo é sempre mais caro, não há preço em nada e vc tem de perguntar e pechinchar. O lugar é muito perigoso, é como colocar japoneses na feira de Acari. É muito estranho vc ter externamente (pele) algo que te diferencia e que não tem como esconder, somos chamados pelos pobres, de `pulas` (algo semelhante a gringo no Brasil). Estar no outro lado do preconceito racial é muito interessante e amendrontador. Mas isso (xenofobia) só acontece com a população muito pobre, na maioria refugiados da guerra, que vieram de suas tribos no interior, eles reclamam devido a falta de emprego e condições, que são ocupados por estrangeiros. Vem muito chinês trabalhar em construção civil, mas tudo no interior do país.
Nesta feira eu vi bacalhau com cabeça, acreditem, existe…..Só falta eu ver enterro de anão e achar os meus guarda- chuvas perdidos.

Refazendo a cidade

Aliás, construção civil aqui é o grande filão, a Odebrecht está se fazendo….rssss… a cidade é um imenso canteiro de obra pra todos os lados, gruas enormes, buracos idem, dia e noite, não param nunca. Até os nativos estranham, outro dia o nosso motorista do ônibus fez uma exclamação de surpresa ao ver um buraco enorme com tapumes “ Cadê a praça que estava aqui?”…..havia 15 dias que ele não passava por ali.
A região onde estamos morando lembra muito o Recreio dos Bandeirantes há uns 15 anos atrás, muitos condomínios (lindos) e alguns poucos prédios, é lá que fica o Belas Shopping, único na cidade com a estrutura que a gente conhece aí.
Nos mostraram fotos da cidade antes da guerra, era muito bonita, conhecida como a Paris da África. Agora eles querem usar o dinheiro do petróleo para refazer a cidade, desta fez como a nova Manhatan.
Bom pessoal, vou ficando por aqui.
Estou indo bem, boa adaptação, só a saudade é que é imensa. A vontade é de pegar o primeiro avião e voltar. Mas peço forças ao meu Pai Omulu, agora mais do que nunca, tenho certeza de que não vim pra cá a toa, rezo para que possa seguir a minha natureza e destino de forma correta.
Um beijo enorme pra vcs.

Mandem notícias tb.

sábado, 23 de agosto de 2008

Povos Angolanos

Salineiras de Lobito




Quitandeiras



Iniciação feminina



Mulheres Cuando em dança tradicional


Mulheres do Sul

Amamentação

Tambor de Cerimonia













Povos Angolanos


Quibundo
Domina uma vasta extensão entre o mar e o rio Cuango. A sua formação apresenta-se confusa, talvez posterior ao século XV. É fruto de muitos cruzamentos. Os antigos Quimbundos foram notáveis organizadores de estados e contam na sua história afamados sob os guerreiros. Sob a autoridade de um Ngola (rei), os portugueses instituíram no século XVI o reino de Angola.O padrão étnico quimbundu caracteriza-se por uma ampla miscigenação, muito acentuada na zona de Luanda, havendo no entanto, alguns tipos de genuínos.Desenvolvem uma agricultura evoluída, incluindo a cultura do café. Nas ilhas que circundam Luanda, comunidades quimbundas fizeram da pesca o seu material e espiritual modo de vida, mormente os Maxilunda. Os Luanda, no seu profundo gosto pelos festejos carnavalescos, expressam a sua ancestral propensão para aparatosos espetáculos folclóricos e cultivaram em tempos, na ilha de Luanda, um culto a sereia.As populações quibundas do litoral encontram-se muito integradas no tipo de vida ocidental, participando activamente em variadíssimos sectores da vida nacional.




Povos Angolanos


Xindoca
São poucos e encontra-se no ângulo sudoeste de Angola entre o Cubango e o Cuando. São os Mucussos os seu grupo mais importante.Praticam um agro-pecuária em pequena escala.A forjaria, os instrumentos musicais e os adornos, constituíram as manifestações artísticas e técnicas mais evidentes deste grupo, sendo também hábeis no artesanato de madeira e trajes de pele animal.A sua cultura é uma mistura de padrões dos caçadores, pastores e agricultores, com grandes influência do leste.

Povos Angolanos


Nhaneca-Humbe
Este grupo encontra-se fixado nos territórios do curso do rio Cunene. Admite-se serem os Nhanecas os mais antigos. Esta etnia possuis notável organização de chefia jaga, à data da organização de estado do Humbe-Onene. É formada por criadores e pastores de bois e entre os Humbes encontram-se alguns dos grandes proprietários de manadas. A sua economia é agro-pecuária, com predomínio desta última, à semelhança dos seus vizinhos, Ambós e Hereros. A região dos Humbes, foi afligida a partir de 1881 pela invasão dos Hotentotes da Namibia que chegaram às margens do Cunene. À semelhança dos agricultores do Norte, os terrenos de cultivo não constituem propriedade individual. Também os patos são comuns. Entre os Humbes encontramos, no entanto, um espantosa organização do espaço. No plano cultural expressam, à semelhança dos Ambós e dos Hereros influêcia da cultura camítica oriental manifesta na instituição do "gado sagrado". O cortejo do Boi Sagrado, praticado anualmente entre os Nbanecas, é tido como reminiscência do culto do boi Ápis dos velhos altares do Nilo. No aspecto artístico, os Humbes cultivam o adorno do corpo e curiosos penteados, produzindo vestuário e ornatos de variada natureza, incluída a confecção de pulseira metálica, finamente gravadas. Na vida social particular evidência par os ritos de puberdade feminina.Os Humbes revelam ao observador a existência de uma élite dotada de uma notável inteligência prática.

Povos Angolanos


Mbundo ou Ovibundo

Sendo um dos mais numerosos, este grupo ocupa um vasto espaço a meio da metade centro-oeste de Angola, subindo da beiramar para as terras altas. O grupo etnolinguístico Mbundo é constituído por quinze subgrupos principais, sendo particularmente notáveis os Bienos e os Bailundos. Eles constituem uma síntese dos povos angolanos.Foram viajantes incansáveis do sub-continente e ainda hoje mantém grande tendência migratória. Dizem-se originários das terras a nordeste, mas, segundo alguns entendidos, terão vindo mais provavelmente do sudoeste do Congo.Ficaram célebre na região mbundo, as "guerras dos Nanos" com início em 1803 e que assolaram durante um século as terras do Planalto e do Sudoeste. A maior; eclodiu em 1840, sendo o grosso das hordas composto por gentes do Huambo, um dos sub-grupos mbundo. Do ponto de vista sócio-politico possuíam os Mbundos notáveis organizações e construíram fortes muralhas defensivas, algumas delas inexpugnáveis para a época (Quissanje e Quequete).São características comuns à parte dos grupos mbundos uma grande propensão para actividade agrícolas e pecuária. Nas artes, foi relevante a sua escola de escultura animalísticas.São tidos como os povos que melhor aceitam os padrões da cultura ocidental, sendo, aliás, desta etnia, o maior número dos sacerdotes de Angola.

Povos Angolanos


Luanda-Quioco



Ocupa uma extensa área que vai desde a fronteira Nordeste até ao Sul. São os Quiocos o corpo étnico mais importante.Oriundos da África central, emigraram massivamente no século XVII para o sul estabelecendo-se no sul da Luanda. Depois de longo período de lutas, foi somente no século XIX que os Quicos conseguiram forçar os territórios lundas, expandido-se rapidamente para o norte e par o sul. O largo derrame quioco levou este povo a transbordar para além das fronteiras de Angola, encontrando-se dele alguns núcleos no Congo Democrático e na Zâmbia.Consequentemente o xadrez somático dos Quiocos apresentam-se bastante variado.A designação "Luanda-Quioco" é de ordem histórica: na realidade, predominam os Quiocos. Este povo, oriundo de uma velha cultura de caçadores savânicos, apresenta-se activo e industrioso e revelou-se particularmente perito nas técnicas siderúrgicas, produzindo um ferro de alta qualidade. Os Quiocos mantiveram em tempos, admiráveis escolas de escultura e são artesões polivalentes e de grande habilidade. Caracterizam-se por uma acentuada unidade cultural, são bons construtores de habitações e muito aptos para o negócio.Dotado de um vivo sentido de assimilação, cruzam-se com a quase totalidade das etnias que contactam, estabelecendo colônias por toda a parte. As instituições e cultos referidos à caça são predominante e ainda conservam o regime matriarcado.O amor as viagens e à caça, um espírito comercial, a oratória, um bom poder de comunicação e de sociabilidade são os traços mais característicos dos Quiocos.

Povos Angolanos


Herero

É constituído pelos criadores de bois mais típicos e detentores dos melhores pastos de Angola. Os Cuvales constituem o sub-grupo mais notório.Do ponto de vista cultural praticam a arte do adorno. É tipico da mulher cuvale o turbante de pele de carneiro e na mulher ximba a touca triorelhuda de cerimónia.As mulheres ximbas destacam-se aliás, pelo seu esmero no adorno e no vestuário. São elas mais elegantes entre as etnias do Sudoeste.Admite-se que os hereros sejam provenientes do nordeste africano e tenham tido uma cultura camítica quase pura.Mantém o culto das vacas sagradas e veneram os espíritos dos criadores defuntos.Os cuvales são excelentes guias e caçadores. Hábeis, decididos e independentes, ganham afeição aos amigos, mas tornam-se perigosos quando maltratados.Não admitem cruzamentos com outros povos e nutrem um desprezo que pode ir ao exagero por outros grupos étnicos que considerem inferiores.

Povos Angolanos






Ganguela


Ganguela - Este povo apresenta-se repartido por dois territórios, uma na fronteira leste e o outro nos ramos superiores do rio Cubango.A agricultura na época das chuvas, a criação de gado, pesca lacustre e a apicultura, constituem as sua principais actividades econômicas.O subgrupo Ganguela de mais nomeada é o Luena, antigos Luanda-Quiocos que adoptaram a língua dos Ganguelas e tomaram fortes influências culturais do Zimbabwe. Foram notáveis fundidores de ferro e praticam ainda hoje uma cerimônia admirável, negra e polida, de, modelação artística. Como aspectos sociais, predomínio dos ritos de passagem masculinos. Nas artes, manufacturam alguma escultura e uma curiosa série de máscaras. Alguns etnólogos admitem serem os Ganguelas os povos banto mais antigos do País.




Povos Angolanos


Ambó

Ocupa uma vasto território ao sul do País. Em tempos foram conhecidos por Banctuba, Entre as sua populações, destaque para o sub-grupo Cuanhama. Dedicam-se à agro-pecuária. Os cuanhamas ganharam celebridade, no passado, pela audácia dos seus assaltos aos currais alheios e por certa organização militar. Na vida social, caracterizam-se pelo matriarcado, conquanto seja o homem detentor da autoridade e o defensor qualificados dos direitos, O regime de parentesco é regido segundo a linhagem uterina.Apresenta-se muito interessante a organização familiar dos Cuanhamas, espécie de associação de trabalho nas suas "quintas" , local onde vivem, formadas por estacarias em disposição labiríntica, permitindo fácil acesso somente a quem conheça o traçado.São bons caçadores e hábeis cavaleiros. Manifestam um evidente gosto pela equitação e possuem muitos cavalos, cuja existência é para eles um motivo de prestígio.

Viagem ao Sul
Esta beleza agonizante do Cuanhama
espraiando-se até à linha do horizonte
como um tapete estafado
que se desfaz sob os nossos pés
fala-me de guerras passadas e de reinos
......................... já dos homens olvidados…
Morrem como a terra as tradições
numa infinita tristeza
numa apática indiferença
que magoa como uma lembrança triste.
Secam as cacimbas, as talas, o capim
...............só não secam as lágrimas.
Só não morre em mim esta pungente
faculdade de sofrer junto com a terra.
É por isso que eu gosto de cá vir
e é por isso que me custa vir aqui
e ver alvejar a carcassa daquele boi
que morreu o ano passado!
E os paus caídos nos eumbos poeirentos
e os gongueiros sem folhas nem frutos
secos, secos como os braços dos mutiátis…
É por isso que me custa vir aqui!
...................Sofro e compreendo
O Cuanhama que busca em vão a esperança
que o sol inclemente lhe arrancou
da terra que lentamente se recusa
aos nossos passos.

*Neves e Sousa*



Povos Angolanos



Quicongo

Ocupa Cabinda e o Nordeste, entre o mar e rio Cuango. Os Quicongos são agricultores tradicionais, constituindo a mandioca a sua principal base de cultivo.Algumas etnias são muito aptas para o negócio, nomeadamente "os Canbidas" e especialmente "os Zombo". As quitandas ou mercados constituíram aliás, um importante elemento da vida quicongo e por elas chegavam a contar o tempo.Entre os Quicongos institucionaram os portugueses, no século XVI, uma monarquia de padrão europeu, onde o rei mantinha com vassalos, conde, duques e marqueses, administrando áreas do território ao modo medieval.Os povos quicongos são notoriamente superticiosos e extremamente propensos à criação de místicas religiosas. São também detentores de um vivo espírito filosófico.Também particularmente propensos à vida marítima, os Cabindas tripulam as embarcações de cabotagem entre os portos de Angola. Os Cabindas têm ainda fama de orgulhosos e frívolos, ultrasensíveis e muito inteligentes.



sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dia 2


Oi Maninha! To super bem, fica tranquila.


Vou ter muito trabalho por aqui.


Estou em hotel sem acesso a internet novamente.


Por enquanto só vou conseguir mandar email e aqui pelo orkut nas horas em que estiver livre no hospital.


Beijão grande


To bem

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Alo Luanda


Angola, 06 de agosto de 2008


Fiz o trajeto RJ-SP-Joenesburgo-Luanda, encontrei uma médica que conheci na entrevista, já no saguão de embarque no Rio, Ana Maria que faz gastro e endoscopia digestiva. Em São Paulo fomos recepcionados pela secretária da Conplasa ao fazermos o check in, neste momento conheci outra médica, Aparecida que é cirurgiã geral e pediátrica. Lá tb embarcou Cyro, meu chefe de gineco, e sua esposa.

Joanesburgo olhando do alto não parece tão grande, muitas casas e poucos prédios, mas o aeroporto é muito bom e com um free shop enorme e caro. Já Luanda do alto é enorme, mas parecendo uma enorme favela da maré ao chegar no Galeão.

Ao chegar em Luanda, o susto...rsss....nunca imaginei descer no meio da pista, de escada, de um Airbus...isso mesmo....não tem finger, o aeroporto daqui só não perde pra rodoviária de Maricá. A alfândega deve ter uns 50m2, com as pessoas se amontoando dentro, mais asiáticos do que africanos, e poucos europrus e americanos. Neste local já começa o problema de ´presentes` ou `gasosa` para passar na frente ou conseguir primeiro o formulário de imigração. A única esteira para as malas, recebendo 3 voos ao mesmo tempo, é pré-histórica e enguiçou por mais de meia hora, causando enorme alvoroço nos chineses com suas muambas. Ao passar por mais um saguão já saímos do aeroporto, que tem um único policial na porta. Lembrava aquelas imagens de filmes americanos sobre os países africanos ou centro-americanos. E eu que tinha reclamado que o aeroporto de Montevideo parecia uma rodoviária...rsss....nem podia imaginar que existisse algo mais precário em transporte aéreo.

Conhecemos o ´estilo angolano de ser` ao sabermos por sorte, pq conhecemos um farmacêutico que estava voltando do Brasil, trabalha no hospital e tinha o telefone do receptivo, que o carro para nos buscar iria sair do hotel naquele momento em que chegamos, mesmo tendo sido avisados do nosso vôo e de saber que o transito poderia estar caótico. Isso implicou em quase uma hora e meia de espera no lado de fora do aeroporto, sentados num corrimão pq não há cadeiras no aeroporto. Entretanto, assistimos um show de canto gospel na calçada em frente, pois era a recepção de uns pastores americanos que vieram para um grande encontro, religiosos chamados toqueiros devido ao seu fundador, Pastor Toco, foi muito bonito.

Precisei ir ao banheiro e ao perguntar ao único policial existente este me orientou que ficava no saguão de bagagens, fui até lá sem passar por única alma viva, vi várias malas que foram deixadas neste saguão, poderia ter pego qquer uma delas sem que ninguém visse, ou até mesmo ir até a pista de pouso, pois a porta fica aberta.....rssss....incrível.

Fomos informados que estão construindo outro aeroporto em Luanda Sul.

Transporte até o hotel em um micro-onibus através de ruas sujas, castigadas, lotadas de vans chamadas candongas pois não há transporte público em Luanda, nem taxi. Chegamos a um hotel com obras na rua, porém bem decente, além da expectativa que já havíamos criado devido a tudo visto até o momento.

Estamos num hotel 3 estrelas onde só moram funcionários brasileiros, a 13 min do hospital. Os angolanos são extremamente simpáticos, e os brasileiros se mostraram satisfeitos até o momento, uns aqui há 6 meses, e a maioria há 4 meses.

O quarto tem cama de casal, frigobar, TV, acesso a cabo para internet, mas que só voltou a funcionar depois de 6 dias enguiçado, banheiro com aqueles chuveiros-box em modelo italiano, que tem torre com duchas laterais, chuveiro em cima e de mão, porém tudo é importado da China. Ficaremos aqui mais 2 dias e depois iremos para Luanda Sul, bairro chique daqui, para outro hotel, para ficarmos por 3 meses, até que o prédio dos médicos fique pronto, a obra está atrasada. Vimos fotos do prédio, tem localização fantástica, 5 andares, todos os quartos com vista para o mar, e elevador panorâmico.

Outro susto enorme...ao entrarmos no hospital......as fotos enviadas não correspondiam a realidade....o hospital é fantástico, tudo de mais moderno, tudo amplo. A decoração não é a mais bonita que já vi, o Johns Hopkins em Baltimore é mais bonito externa e internamente, porém em estrutura nunca vi nada igual, é muito mais do que sonhei em trabalhar um dia. Todos nós médicos estamos abismados, é muita tecnologia, muito equipamento, muita gente sendo treinada, muita organização. O hospital tem 228 leitos, mas irá começar a funcionar com 122, e já tem 780 funcionários trabalhando, isso pq só irá inaugurar dia 15 ou 25 deste mês, inclusive com a presença do presidente do país. A rotina é de chegar ao hospital as 07 e meia e sair as 18h. Na primeira reunião já fomos informados que seremos referencia para atendimento de políticos, presidentes, ministros de estado e artistas de Angola e outros países africanos. Irão iniciar curso de especialização e nós vamos ministrar o curso. A previsão é atuar como Faculdade de Medicina em alguns anos. Nos pediram para listar cursos de aperfeiçoamento que desejemos fazer, inclusive na Europa, nos próximos 2 anos, para programação orçamentária pois vão pagar pra gente. To tendo que ser beliscado para acreditar....rssss...Os outros médicos que vieram comigo são de ótima qualidade, as enfermeiras brasileiras que conheci tb são muito boas, mas todos são unânimes em dizer que o treinamento dos funcionários angolanos tem de começar do zero.

Ainda estão precisando de vários médicos brasileiros, principalmente anestesistas e e neonatologistas. Se souberem de candidatos é só avisar.

A cidade é muito pobre, tem prédios bonitos, antigos, mas a cidade ficou arrasada com a guerra, morreu um grande número de homens e a população feminina hoje é muito maior, a expectativa de vida é de 45 anos e o IDH é muito baixo. O índice de natalidade é alto e estimulado pelo governo, para repovoar o país....já vi que vou fazer muito parto.....rssss

Fomos a feira de Benfica com artesanato popular, tem pouca variedade mas coisas bem interessantes, tem sempre que se pechinchar pra cair o preço em pelo menos 50%. Vi 2 enormes templos da Universal, mas o povo é bem supersticioso quanto a mandinga, não se pode tirar foto de ninguém na rua pq se pode fazer macumba com as fotos....rssss

Tem um shopping grande, do tamanho do Iguatemi, moderno, mas tudo é muito caro, o serviço é ruim e falta muita coisa. As pessoas acabam comprando as coisas no sinal, desde roupas e sapatos, até eletrodomésticos. Em loja por exemplo, um sapato Arezzo feminino brasileiro custa 100 doláres, a feitura de mão pé e escova num salão Werner....isso mesmo, tem franquia aqui......sai por $90......informações muito importantes pra mim...rssss.....calma, brincadeirinha, não virei traveca, foram informações colhidas dos papos de mulheres.

Um ótimo detalhe, aqui tem Globo Internacional, a programação é um pouco diferente, mas passa as novelas igual ao Brasil, sem atraso....oba!!!!....vou ficar sabendo quem é a assassina de A Favorita.....rssss

Beijos mil.......saudades de todos vcs