terça-feira, 26 de agosto de 2008

Carta de Luanda 2



25 de agosto de 2008

Olá pessoal!

As saudades são enormes.

Estou sem meu laptop, pois peguei um vírus “Cavalo de Tróia” através da conexão com um computador do auditório da clínica na primeira aula que dei. Que azar!!! Tentei de tudo para concertar, mas sem sucesso. Pelo menos estou aprendendo um bocado de computador, atualizei meu windows, desinstalei meu teclado e instalei de novo, fiz o escambau, nunca achei que saberia mexer tanto com PC, pena que não deu certo. Agora vou ter de mandar para o concerto (espero que tenha), mas só depois que sair o salário. Por isso estou sem conexão com internet no hotel, e no trabalho só consigo acessar o email.

Aprendi mais uma coisa do idioma kimbundo, a nossa palavra bocado vem de bukatu…legal né?

A aula que fiz foi legal, falei sobre DST para um público de cerca de 200 pessoas, todos funcionários da clínica, de técnico a nível superior. Foi um bom começo, fiquei satisfeito com o resultado. Os angolanos além de simpáticos são muito participativos e interessados.

A cidade

Um outro dia de engarrafamento, em que absolutamente nada andava, aqui parece São Paulo, o motorista do nosso ônibus resolveu entrar pelas comunidades, o que chamavamos de favela no Brasil aqui é conhecido como Mussekes. Muita similaridade com tudo o que conhecemos, só que são no plano, apesar de irregulares, mas não há morros aqui. Casas com paredes de blocos, papelão ou pedaços de conteiner, tetos de zinco alocados com tijolos ou pedras em cima, contra o vento. Nada de banheiro ou saneamento. Luz também não, não há uma empresa de iluminação pública aqui como a Light ou a Ampla, cada um tem seu gerador a diesel, e portanto, esses casebres são todos com velas ou lampiões. Ruas de terra e muito lixo, com casebres construídos em cima do lixo inclusive. Crianças descalças, só de fraldas ou shorts, andando descalças e com o nariz escorrendo, atravessando valas a céu aberto. Todos pretinhos e de cabeça raspada…como lembrei de Areinha (meu erê pra quem não conhece) , inclusive vi um menino brincando com uma roda e um arame igual ele pediu e ganhou da Marcia. Nunca poderia imaginar que aqui eles brincam com isso.
Num determinado ponto havia uma barricada com restos de ferro velho no qual vários homens ficavam cobrando ´gasosa´ (pedágio), pois sabiam que pelo movimento anormal de carros no local e com o engarrafamento na cidade, eles poderiam tirar uma boa grana. A diferença em relação ao Rio é que eles não estavam armados, apesar de agressivos (e do ajuntamento), e por não haver um tráfico de drogas organizado no local (pelo menos não visível)
Por falar em Areinha e terra, realmente me lembro o tempo todo que aqui é terra de meu Pai Omulu, é uma terra avermelhada, fina como areia, que com o tempo seco, sobe e se deposita em tudo, folhas de árvores, postes, telhados, o que dá toda uma coloração marrom-avermelhada a cidade. Dizem que quando chegar a época das chuvas as coisas melhoram.



Praia ou Ilha de Mussulo
O lugar é uma ilha bem próximo ao continente (na cidade de Luanda mesmo), uns 15 min com uma lancha pequena, no qual os motoristas tentam te achacar absurdamente, só dá pra ir num lugar desse acompanhado de algum angolano. Praia limpa, bom bar com bangalôs e mesas (muito caro), e portanto só fiquei a olhar mesmo….rsss. É uma paisagem legal, mas nada que se compare aos passeios de Angra e Paraty. Gente….nossa terra é linda……olhem com muita atenção e carinho para ela.

Areinha

Eita garoto danado!!!. Não havia entendido seus recados, mas aqui as coisas ficaram claras, já mencionei as quizilas acima,e os garotos aqui que lembram muito ele, inclusive brincando. E agora para completar, o fato dele ter dito que iria ver muito egum, pois é, como já falei antes, os velórios são em casa, e a gente vê os caixões saindo de carro, acidente de carro com moto aos montes, e as pessoas não socorrem, vão embora após o acidente (pq se não são linchadas pelos pedestres). Logo, os acidentados tem de esperar alguma ambulância para pega-los e isso não é rápido. Já passei por três cadáveres, recém acidentados. È muito louco isso aqui!

Policiamento

Não há quase policiamento público, tem alguns poucos guardas de trânsito, e vários militares com metralhadoras policiando prédios públicos e governamentais. Alías, exército aqui é o que não falta, é comboio passando a toda hora, e bem armados. È comum vermos serviço particular de segurança em cada casa (classe média e alta), dizem que é resquício da guerra. O clima lembra um pouco o do Brasil na década de 70, ninguém fala publicamente de política por medo, e o partido do governo (MPLA) domina a TV e rádio, além de toda a vida cultural de shows e etc. Tem bandeira do partido pra tudo que é lado. Alías, vai ter eleição para legislativo aqui no dia 5, será feriado, esqpero que não tenhamos que vir ao hospital, por questão de segurança, será a primeira eleição depois da guerra.

Comida

Graças a Deus a comida é muito parecida com a nossa, muito alho e sal. Dendê tb usam bastante aqui…oba!! Eu adoro…eles chamam de óleo de palma, e usam até no tempero do feijão (refogado)…fica muito bom. O prato mais típico é o Funje, eu não gostei. É uma massa feita de água e farinha de milho ou de mandioca branca, lembra um pirão, só que muito duro e sem nenhum tempero ou sal, em cima é que se joga um ensopado de carnes ou peixes com os molhos temperados. Acho que o nosso cozido vem daqui.
Tem Bob´s, um no shopping e outro drive tru próximo de onde iremos morar futuramente. O sabor é o mesmo, só o serviço que pra variar é leeeeennnttttoooooo, faz os nossos no Brasil parecerem a jato….rssss. O preço tb é maior, um trio big bob sai em torno de $ 13 (americanos). Comida aqui é muito cara. A sorte é que bebida é bem barata (no supermercado)…..rssssss

Hospital

A clínica ainda não inaugurou, atrasou a chegada de alguns materiais que vêm de Portugal. A previsão é que seja depois da eleição (05/09). Estamos trabalhando na elaboração de protocolos, fase muito boa, pois fazemos bastante pesquisa. Ainda fazemos algumas simulações de atendimento, treinamento do uso de material e etc. Enquanto isso, outros médicos vão chegando. A maioria é brasileiro e angolano, mas tem tb cubano, portuguese e russo.

Feira Roque Santeiro

Maior shopping que já vi na vida, experiência antropológica e tanto….A Regina Casé já gravou um programa lá. A céu aberto, com centenas de barracas tipo feira livre, vendendo tudo que se possa imaginar. Se perde a visão da extensão da feira. Tem fama de ser mais barato, mas para nós tudo é sempre mais caro, não há preço em nada e vc tem de perguntar e pechinchar. O lugar é muito perigoso, é como colocar japoneses na feira de Acari. É muito estranho vc ter externamente (pele) algo que te diferencia e que não tem como esconder, somos chamados pelos pobres, de `pulas` (algo semelhante a gringo no Brasil). Estar no outro lado do preconceito racial é muito interessante e amendrontador. Mas isso (xenofobia) só acontece com a população muito pobre, na maioria refugiados da guerra, que vieram de suas tribos no interior, eles reclamam devido a falta de emprego e condições, que são ocupados por estrangeiros. Vem muito chinês trabalhar em construção civil, mas tudo no interior do país.
Nesta feira eu vi bacalhau com cabeça, acreditem, existe…..Só falta eu ver enterro de anão e achar os meus guarda- chuvas perdidos.

Refazendo a cidade

Aliás, construção civil aqui é o grande filão, a Odebrecht está se fazendo….rssss… a cidade é um imenso canteiro de obra pra todos os lados, gruas enormes, buracos idem, dia e noite, não param nunca. Até os nativos estranham, outro dia o nosso motorista do ônibus fez uma exclamação de surpresa ao ver um buraco enorme com tapumes “ Cadê a praça que estava aqui?”…..havia 15 dias que ele não passava por ali.
A região onde estamos morando lembra muito o Recreio dos Bandeirantes há uns 15 anos atrás, muitos condomínios (lindos) e alguns poucos prédios, é lá que fica o Belas Shopping, único na cidade com a estrutura que a gente conhece aí.
Nos mostraram fotos da cidade antes da guerra, era muito bonita, conhecida como a Paris da África. Agora eles querem usar o dinheiro do petróleo para refazer a cidade, desta fez como a nova Manhatan.
Bom pessoal, vou ficando por aqui.
Estou indo bem, boa adaptação, só a saudade é que é imensa. A vontade é de pegar o primeiro avião e voltar. Mas peço forças ao meu Pai Omulu, agora mais do que nunca, tenho certeza de que não vim pra cá a toa, rezo para que possa seguir a minha natureza e destino de forma correta.
Um beijo enorme pra vcs.

Mandem notícias tb.

sábado, 23 de agosto de 2008

Povos Angolanos

Salineiras de Lobito




Quitandeiras



Iniciação feminina



Mulheres Cuando em dança tradicional


Mulheres do Sul

Amamentação

Tambor de Cerimonia













Povos Angolanos


Quibundo
Domina uma vasta extensão entre o mar e o rio Cuango. A sua formação apresenta-se confusa, talvez posterior ao século XV. É fruto de muitos cruzamentos. Os antigos Quimbundos foram notáveis organizadores de estados e contam na sua história afamados sob os guerreiros. Sob a autoridade de um Ngola (rei), os portugueses instituíram no século XVI o reino de Angola.O padrão étnico quimbundu caracteriza-se por uma ampla miscigenação, muito acentuada na zona de Luanda, havendo no entanto, alguns tipos de genuínos.Desenvolvem uma agricultura evoluída, incluindo a cultura do café. Nas ilhas que circundam Luanda, comunidades quimbundas fizeram da pesca o seu material e espiritual modo de vida, mormente os Maxilunda. Os Luanda, no seu profundo gosto pelos festejos carnavalescos, expressam a sua ancestral propensão para aparatosos espetáculos folclóricos e cultivaram em tempos, na ilha de Luanda, um culto a sereia.As populações quibundas do litoral encontram-se muito integradas no tipo de vida ocidental, participando activamente em variadíssimos sectores da vida nacional.




Povos Angolanos


Xindoca
São poucos e encontra-se no ângulo sudoeste de Angola entre o Cubango e o Cuando. São os Mucussos os seu grupo mais importante.Praticam um agro-pecuária em pequena escala.A forjaria, os instrumentos musicais e os adornos, constituíram as manifestações artísticas e técnicas mais evidentes deste grupo, sendo também hábeis no artesanato de madeira e trajes de pele animal.A sua cultura é uma mistura de padrões dos caçadores, pastores e agricultores, com grandes influência do leste.

Povos Angolanos


Nhaneca-Humbe
Este grupo encontra-se fixado nos territórios do curso do rio Cunene. Admite-se serem os Nhanecas os mais antigos. Esta etnia possuis notável organização de chefia jaga, à data da organização de estado do Humbe-Onene. É formada por criadores e pastores de bois e entre os Humbes encontram-se alguns dos grandes proprietários de manadas. A sua economia é agro-pecuária, com predomínio desta última, à semelhança dos seus vizinhos, Ambós e Hereros. A região dos Humbes, foi afligida a partir de 1881 pela invasão dos Hotentotes da Namibia que chegaram às margens do Cunene. À semelhança dos agricultores do Norte, os terrenos de cultivo não constituem propriedade individual. Também os patos são comuns. Entre os Humbes encontramos, no entanto, um espantosa organização do espaço. No plano cultural expressam, à semelhança dos Ambós e dos Hereros influêcia da cultura camítica oriental manifesta na instituição do "gado sagrado". O cortejo do Boi Sagrado, praticado anualmente entre os Nbanecas, é tido como reminiscência do culto do boi Ápis dos velhos altares do Nilo. No aspecto artístico, os Humbes cultivam o adorno do corpo e curiosos penteados, produzindo vestuário e ornatos de variada natureza, incluída a confecção de pulseira metálica, finamente gravadas. Na vida social particular evidência par os ritos de puberdade feminina.Os Humbes revelam ao observador a existência de uma élite dotada de uma notável inteligência prática.

Povos Angolanos


Mbundo ou Ovibundo

Sendo um dos mais numerosos, este grupo ocupa um vasto espaço a meio da metade centro-oeste de Angola, subindo da beiramar para as terras altas. O grupo etnolinguístico Mbundo é constituído por quinze subgrupos principais, sendo particularmente notáveis os Bienos e os Bailundos. Eles constituem uma síntese dos povos angolanos.Foram viajantes incansáveis do sub-continente e ainda hoje mantém grande tendência migratória. Dizem-se originários das terras a nordeste, mas, segundo alguns entendidos, terão vindo mais provavelmente do sudoeste do Congo.Ficaram célebre na região mbundo, as "guerras dos Nanos" com início em 1803 e que assolaram durante um século as terras do Planalto e do Sudoeste. A maior; eclodiu em 1840, sendo o grosso das hordas composto por gentes do Huambo, um dos sub-grupos mbundo. Do ponto de vista sócio-politico possuíam os Mbundos notáveis organizações e construíram fortes muralhas defensivas, algumas delas inexpugnáveis para a época (Quissanje e Quequete).São características comuns à parte dos grupos mbundos uma grande propensão para actividade agrícolas e pecuária. Nas artes, foi relevante a sua escola de escultura animalísticas.São tidos como os povos que melhor aceitam os padrões da cultura ocidental, sendo, aliás, desta etnia, o maior número dos sacerdotes de Angola.

Povos Angolanos


Luanda-Quioco



Ocupa uma extensa área que vai desde a fronteira Nordeste até ao Sul. São os Quiocos o corpo étnico mais importante.Oriundos da África central, emigraram massivamente no século XVII para o sul estabelecendo-se no sul da Luanda. Depois de longo período de lutas, foi somente no século XIX que os Quicos conseguiram forçar os territórios lundas, expandido-se rapidamente para o norte e par o sul. O largo derrame quioco levou este povo a transbordar para além das fronteiras de Angola, encontrando-se dele alguns núcleos no Congo Democrático e na Zâmbia.Consequentemente o xadrez somático dos Quiocos apresentam-se bastante variado.A designação "Luanda-Quioco" é de ordem histórica: na realidade, predominam os Quiocos. Este povo, oriundo de uma velha cultura de caçadores savânicos, apresenta-se activo e industrioso e revelou-se particularmente perito nas técnicas siderúrgicas, produzindo um ferro de alta qualidade. Os Quiocos mantiveram em tempos, admiráveis escolas de escultura e são artesões polivalentes e de grande habilidade. Caracterizam-se por uma acentuada unidade cultural, são bons construtores de habitações e muito aptos para o negócio.Dotado de um vivo sentido de assimilação, cruzam-se com a quase totalidade das etnias que contactam, estabelecendo colônias por toda a parte. As instituições e cultos referidos à caça são predominante e ainda conservam o regime matriarcado.O amor as viagens e à caça, um espírito comercial, a oratória, um bom poder de comunicação e de sociabilidade são os traços mais característicos dos Quiocos.